sexta-feira, novembro 25, 2005

LEI SECA NA PERIFERIA DE SÃO PAULO

A subprefeitura de M`Boi Mirim, zona sul da capital paulista, lançou o chamado Pacto da Paz, ou Lei Seca como alguns chamam. O projeto visa o fechamento dos bares às 22h, com a intenção de reduzir a violência, segundo o discurso de José Serra durante a 10ª Caminhada pela Paz no Jd. Ângela e pretende abranger toda a periferia da cidade.

“Segundo o Ministério Público, 91% dos assassinatos na zona sul ocorrem a 100 metros de um bar”

O Ministério também deveria saber que praticamente a cada 100 metros existe um bar na periferia, ou seja, qualquer lugar que você morrer na quebrada será próximo a um boteco.

O Becos conversou com alguns donos de bares da região e com alguns freqüentadores para saber o que eles acham dessa medida.

O Bar do Mangue, na Avenida Guarapiranga, um dos picos mais movimentados da região, foi reaberto após 4 meses. Erli Ferraz da Silva, 38 anos, o responsável pelo bar, diz que fechou por causa dos vizinhos que entraram com processo na Prefeitura incomodados com o barulho e não por violência no local.
Fábio de 26 anos, morador do Jd. Alfredo e freqüentador do Bar do Mangue, complementa: “Nunca tive que correr daqui por causa de treta. Uma vez um cara puxou o revólver, mas aí trocaram uma idéia e apaziguou a fita, entendeu? Só quando era lá em frente do Vicente (escola pública no Jd. das Flores) é que mataram um cara na rua, mas é outra fita. Aqui na pracinha eu colo há uns 2 anos, de boa. As bebidas são boas e gasto bem menos do que gastaria na Vila Madalena.”
Fábio diz que quando o Mangue fechava, o perigo maior era a polícia: “Uma vez chegaram com spray de pimenta na cara de todo mundo, descendo a borrachada, e você sabe como é, vai debater com fardado? Eles são os donos da razão.”
Quando perguntado sobre os bares da classe média, responde injuriado: “Os filhinho de papai ficam de boa né? Na Vila Madalena vira a noite e agora sobra pra nós!”


DE QUEBRADINHA...
Jardim Boa Vista (Próximo ao Pq. Figueira Grande), meia-noite da sexta feira, Zé Muquinha, dono do bar que tem o seu nome diz: “Você acha que alguém vai ser estuprada ou roubada aqui na frente? Mas se morrer na calçada com o bar fechado, vai sair no jornal: Morreu no bar!”
E diz mais:“A mulher chega às 11 horas do trabalho, o mercado tá fechado. Onde ela vai comprar uma Dolly?”
Ângela Maria, moradora do bairro fecha a idéia: “Chego tarde do trabalho e realmente me sinto mais segura quando os bares estão abertos, quando estão fechados é tudo escuro aqui, vão fechar às 22h e aonde eles vão beber?”

E a polêmica continua:
“Sou totalmente a favor, isso diminui a violência e incentiva as pessoas a procurarem outras alternativas de entretenimento”. (Aurélio Caetano)

“Na época em que fecharam os bingos, o teatro cresceu. Mas isso nos bairros nobres. Será que na perifa um ou dois irão a um teatro, com a bilheteria a 50 conto? Se bem que tem uns mais baratos, mas quem tem interesse por teatro na quebrada? O Boteco infelizmente é a única opção”. (Robson Canto)


Por Rogério Pixote

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