segunda-feira, novembro 07, 2005

Literatura Periférica: O Time

Lançamento do livro Vão, do poeta Allan da Rosa e 1º Encontro de Literatura Periférica na ONG Ação Educativa.

Muitos quilômetros percorridos até chegarem no campo, todos os jogadores em suas posições, esperando apenas o assobio do apito. Nesse time não tem adversários, só aliados. Você deve estar se perguntando: como isso é possível?
Está em campo o time da Literatura Periférica, no qual o mais importante não é o momento do gol, mas o trajeto que a bola faz.
Contrariando estatísticas que mostram a pouca e má leitura do brasileiro, escritores e poetas de diversas localidades lutam para que a leitura seja difundida dentro das suas comunidades. Exemplos são o escritor Alessandro Buzo, com a biblioteca comunitária que montou dentro de uma escola de samba Santa Bárbara, no Itaim Paulista – S/L, Sacolinha, com o Projeto Literatura no Brasil e que está atuando junto à Secretaria de Cultura de Suzano, Ferréz, difundindo a Literatura Marginal pelo Brasil, Sergio Vaz, linha de frente do Cooperifa, Cooperativa Cultural da Periferia, no Jardim Guarujá – Z/S, Dinha, uma guerreira que desenvolve seus trabalhos com os adolescentes no Parque Bristol – S/Z. Esses são alguns jogadores que compõem esse time.
A primeira partida aconteceu no dia 27 de setembro, na ONG Ação Educativa, região central. Nesse dia, o escritor Allan da Rosa aproveitou o lançamento do seu livro de poemas Vão para realizar o 1º Encontro de Literatura Periférica. E, em entrevista ao blog de Alessandro Buzo, comenta essa realização: “Uma puta cena que conjurou naquela noite, mas que cresce todo dia, toda semana, escrita nas madrugas, versada nas rodas... E a mídia graúda não vê, não divulga, não quer saber... Quer apostar cada vez mais na mediocridade, alastrar produtos de encomenda e falar que é arte.”
Estavam presentes na partida jogadores que não têm medo de jogar descalços ou sem camisa. Jogam apenas com a alma e com a vontade de mudança e transformação da sociedade em que vivem. Eram eles: Gato Preto, ativista comunitário da favela do Jd. Colombo e rapper do grupo A Família, Lutigarde, mostrando o que é que a baiana tem, muita força e axé, Maria Tereza, com sua bela voz cantando poemas de Solano Trindade, Akins, declamando seus negros versos, Oubi Inaê Kibuko, ativista da literatura Afro-brasileira Cadernos Negros, Ridson, do grupo Extremamente, Zinho Trindade, cantando no improviso, Raquel Trindade, com sua sábia vivência, além dos poetas da Cooperifa Maurício Marques, Samantha Pillar, o grupo Periafricania, Márcio Batista, entre outros.
Sobre a importância do evento para a literatura periférica crescer, e crescer forte, Allan da Rosa diz: “É uma missão nossa, que vamo tocando pra frente, iniciando. Uma missão de não deixar a literatura ficar toda empetecada e vazia, de dar vazão pra nossa vocação e de botar dendê no papel, de cavucar pra trazer a água da febre, escrever sobre os brinquedos e as lágrimas e as doideiras e as mancadas da vida do povo brasileiro, latino, terráqueo. Com nossa limitação, de tempo, de editar, de circular, mesmo assim a gente se ligou que precisa e que pode voar e ler e escrever. Fazer arte que seja um revide, às vezes dando esporro mesmo e noutra hora dando estória e verso pra imaginação do leitor criar força, leveza, não cair no precipício, descobrir junto com a gente outros planos.”
Encerra-se essa partida, em que todos ganham. Mas o jogo continua até que a literatura seja tão importante quanto a água que bebemos para matar a sede.

Quer saber mais? Acesse:
http://www.suburbanoconvicto.blogger.com.br/
http://www.literaturanobrasil.blogspot.com/
http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/

Elizandra Batista

Um comentário:

Anônimo disse...

Rogério, vc não está esquecendo de nada?
rs...
Mjiba